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1989 |
Maci pergunta a
Antonio:
Essa frase nos marcou, como tantas outras ao longo desses 24 anos de amizade. Uma amizade fortalecida pela convivência e pela maturidade adquirida na troca. Trata-se de uma cumplicidade ímpar, uma verdadeira irmandade.
Nos perguntamos o porquê desse laço, desse imbricamento de vidas, dessa sucessão inexplicável de acontecimentos.
Tivemos tempos diversos em nossas vidas desde a adolescência. Tempo de descobertas, de aprendizado, de escolhas, de crescimento, de produção e reprodução. Agora vivemos o pior deles, o tempo das perdas.
Quando criança nos dizem que temos que aprender a perder, e eu sempre encarei isso numa boa. Perder um objeto de valor, uma briga, uma prova, uma gincana, um namoradinho... Eu empinava o nariz e saía me achando madura e cheia de classe.
Mas não aprendi a perder pessoas.
Perder para a morte é uma tremenda covardia, porque nada podemos contra ela.
Desde que nasci, a única pessoa que morreu na minha família foi minha bisavó. E ela já estava tão velhinha, que nos deixou uma sensação tranquila, de que ela foi descansar no reino dos céus, como sua fé a fazia crer.
A sensação que eu tenho é de que p
erdi meu irmão 3 vezes. A primeira quando descobrimos o câncer. A segunda
quando ele foi parar na UTI, dias antes de finalmente dar adeus a esse plano. E a terceira no derradeiro dia de vida dele.
Tentei encarar tudo (a morte, o velório, o enterro, os domingos que ficaram vazios,
o aniversário dele e o dia das mães sem ele) de forma tranquila, focando minhas energias no amor que nos uniu a vida toda e que certamente nos proporcionará
o reencontro.
Mas quando Celeste (a tia, madrinha, mãe e pai de Mercinho) partiu, um questionamento estranho me tomou: Será mesmo que nós três estamos vivendo um círculo de perdas? Será que Toni terá que encarar a mesma dor dilacerante que eu e Mel sentimos? E por quê?
Recuso-me a aceitar esses tais desígnios que se dizem divinos. Acredito que enquanto há vida, há esperança, por isso, todos os dias, às 18horas, estou unida à corrente de orações, preces, rezas e vibrações positivas em torno de
Daniel, para que ele reaja e não seja a próxima vítima desse maldito círculo de perdas.
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2003 |