Palavras de Alento

17 de mar. de 2011

Corpos Mutantes - Ensaios sobre novas (d)eficiências corporais

Os comentários abaixo fazem referência a textos do supracitado livro, organizado pelos Professores Doutores Edvaldo Couto (UFBA) e Silvana Goellner (UFRGS), como trabalho de conclusão do módulo 3 - Sujeitos na Contemporaneidade.

Uma Estética para Corpos Mutantes - Edvaldo Couto
Um texto sem dúvida intrigante. Me fascina a forma como Edvaldo escreve e descreve o que, a meu ver, é a grande paranóia da vida moderna, sobretudo para as mulheres (maiores vítimas da influência midiática), que é "ter um corpo perfeito".
Essa situação chega ao extremo no Brasil, país que bate recorde quando se trata de levar pessoas às clínicas de cirurgia plástica.
Como a beleza é algo subjetivo, nem sempre o que se busca na transformação física é o que é belo aos olhos do senso comum. Nos casos dessas pessoas que modelaram e (re)construíram seus corpos, é a satisfação proporcionada pelo próprio processo de modificação, que as leva tantas vezes a recorrer ao bisturi.
Mais que uma obsessão pela saúde, o culto ao corpo passou a ser um grande gerador de neuroses, numa busca desenfreada pela perfeição e pelo prolongamento de uma juventude que, naturalmente, não poderá se eternizar. Na verdade uma corrida contra os efeitos do tempo e pelo adiamento da morte, numa tentativa vã de driblar a finitude do ser.


Os Percursos do Corpo na Cultura Contemporânea - Malu Fontes
Este artigo versa sobre as dificuldades encontradas por mulheres deficientes em conviver com as cobranças  impostas pela sociedade contemporânea, pelo fato de não se enquadrarem no modelo de corporeidade feminina idealizada pelo mundo ocidental.
A autora focaliza a mídia como perversa e causadora de angústias, por criar padrões de beleza (quase) inatingíveis. O corpo feminino que outrora esteve escondido e tido como objeto de vergonha e pecado, hoje, superexposto, transformou-se em fonte de inspiração e cobiça, tornou-se moeda e produto comercializável e rentável para os mais diversos tipos de consumo. 
Contrapondo-se a esse corpo canônico, estão os corpos dissonantes dos deficientes físicos, causadores de repulsa e frequentemente rejeitados pela cultura de massa. Essas dissonâncias só são dignas de algum valor quando expostos à espetacularização e bizarrice, numa sociedade em que a exibição do que é tido como perfeito e belo está enraizada na própria cultura. 


Velhice, palavra quase proibida; Terceira idade, expressão quase hegemônica - Anamaria da Rocha Jatobá Palacios
O texto discute a substituição da palavra “velhice”,entendida como politicamente incorreta,  pelo termo “3ª idade”,  introduzido pela indústria cosmética e pela mídia, na tentativa de sublimar um processo natural .
A autora focaliza uma visão conflitante de velhice, vista como uma fase sombria da vida, que, conforme preconiza o discurso das propagandas de cosméticos, deve ser evitada com o uso de produtos de beleza. Em contrapartida, o termo 3ª idade é utilizado para aludir à uma vida saudável e ao prolongamento da aparência jovem.
A indústria cosmética passou a produzir cremes anti envelhecimento para mulheres na casa dos 20 anos, sob o argumento de que os cuidados com a pele devem começar cada vez mais cedo.  A velhice deve vir acompanhada da busca pela conservação da juventude.
A publicidade coloca os cosméticos como produtos indispensáveis à aquisição de um estilo de vida pleno para a 3ª idade. Ao mesmo tempo em que retrata o que se passa numa sociedade, também a influencia, fortalecendo paradigmas que provavelmente serão mudados.

Corpus ex Machina: Contatos imediatos porque mediados - Mara Ambrosina de Oliveira Vargas e Dagmar Elisabeth Estermann Meyer
Uma história contada em três versões, relatando um fato (que deve ser) corriqueiro numa UTI, uma PRC (parada cardiorespiratória), é o ponto de partida para o texto de Meyer e Vargas. Focalizando a capacitação técnica dos profissionais que trabalham prestando atendimento a pacientes em hospitais e UTI móveis, o texto mostra como cada envolvido precisa estar apto a desenvolver os procedimentos de RCR (reanimação cardiorespiratória) de forma dinâmica e competente, em pouquíssimo tempo.
A equipe de atendimento avançado é treinada e avaliada constantemente para trabalhar sob estresse, com agilidade e competência, de modo que exerçam os procedimentos de forma (quase) robotizada.  
As etapas de cada procedimento deixam claro que profissionais inaptos não podem exercer a função. Os protocolos descrevem passo a passo, numa linguagem técnica própria, as etapas do procedimento, de forma a se cumprirem as normas do procedimento.
Enfermeiras intensivistas concebem o corpo/paciente como um sistema tecnológico high tech, e elas mesmas são comparadas a ciborgues, por estarem cercadas de toda sorte de aparato tecnológico. Essas máquinas servem para gerar informações que permitem o que as autoras chamam de “contatos imediatos porque mediados”.
As enfermeiras intensivistas são figuras robotizadas, fruto da cultura ciborgue das UTIs, que usam programas, interagem com sua interface e por isso, parecem fundir-se à máquina, porque precisam estar em composição com ela, corporificando tecnologia.
A grande questão a se discutir é até que ponto pode ser positivo para o ser humano estar imbricado dessa forma com máquinas.

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