Estava às voltas com o casamento de sua irmã mais velha. Era quase primavera, e mesmo estando tão descrente do amor, imergiu nos preparativos, de modo a contribuir de alguma forma, já que seria madrinha dos nubentes.
Fora encarregada de providenciar um bom fotógrafo, que além de registrar tudo, entregasse as fotografias num álbum à altura daquela festa, que lhe parecia exagerada e desnecessária. Mas não discutiria isso com sua irmã agora, pois certamente entrariam em conflito e isso seria péssimo, às vésperas de sua boda. Precisavam apoiar-se mutuamente, pois só tinham uma à outra, além de seu velho e cansado pai.
- Aqui, senhora, dê uma olhada nesses modelos pra ver se algum lhe agrada.
A atendente do estúdio fotográfico pusera à sua frente uma pilha de álbuns. Não sabia por onde começar. Desanimada, pensava na perda de tempo que fora seu próprio casamento. Fizera tudo por imaturidade, mas sua irmã já tinha exemplos suficientes pra saber que aquela pompa toda não lhe garantiria felicidade alguma.
Decidiu que olharia dois ou três álbuns e escolheria qualquer um, tamanho o enfado que lhe causava assuntos relacionados a festas de casamento, sobretudo fotos. Sua irmã certamente fizera de propósito, sabedora de que a Mulher Só detestava esse tipo de formalidade. Para ela, não fazia sentido algum estampar aqueles sorrisos rasgados, vestido branco, fraque, daminhas, flores, flores, flores... Quanto desperdício!
Examinou um álbum, não gostou. Pegou outro, e já estava distraidamente a folhear o terceiro quando, em meio a tantos, retratos reconheceu um dos rostos.
Parou, estática.
Estava em choque. Seus olhos não queriam acreditar no que viam.
Era ele, o Homem Sem Tempo, sorrindo ao lado de uma mulher, numa fotografia de casamento. Do seu casamento.
To be continued...