Capítulo XXX
Os dias que antecediam a chegada do verão deixavam todos bastante animados. Mas àquela altura, a Mulher Só era pura melancolia. Seu nome era saudade e a única coisa que podia servir-lhe de consolo era a certeza de que seu sentimento era compartilhado por seu amado.
A angústia da distância se intensificava nos finais de semana, quando ele não se conectava à internet e seu status nas redes sociais e sites de bate papo apareciam sempre off line. Também nunca lhe telefonava aos sábados ou domingos. Isso a entristecia sobremaneira. Sabia que muito provavelmente ele estaria dedicando seus dias de folga à família.
Certa vez arriscara ligar num domingo, início da tarde no Brasil. Ele atendeu ao celular com um “olá” tão estranho que ela imaginou tratar-se de outra pessoa. Perguntou se estava tudo bem e não prolongou a conversa. Ela desligou o celular, desconcertada, sentindo-se a pior das criaturas, envergonhada de si mesma.
A partir daí passou a questionar-se acerca dessa relação, se essa felicidade momentânea, proporcionada por encontros furtivos, valeria a pena. Chegava a pensar que a angústia causada pela ausência e a falta de posicionamento dele era um preço muito alto a pagar por esse amor.
Mas o Homem Sem Tempo sabia como convencê-la a mudar de ideia. Ele possuía o dom de usar as palavras e fazê-la crer que aquele amor era sim possível. E ela deixava-se levar por promessas que ele nunca fez. Gostava de ouvi-lo dizer que havia algo de inexplicável entre eles, dava-lhe a certeza de que o Homem Sem Tempo realmente acreditava que aquele amor pudesse transpor as barreiras do tempo e jamais morrer.