Mas houve um tempo em que eu havia desistido desse sonho. Achava injusto e egoísta gerar um filho e pôr mais uma criatura nesse mundo pra sofrer. Só me vinha à cabeça o aquecimento global, a superpopulação nas grandes cidades, a concorrência no mercado de trabalho, a violência, a fome, as drogas, as epidemias...
Claro que quando engravidei espantei todos esses pensamentos, e passei a vislumbrar um futuro perfeito, tendo ao meu lado, aquele ser humano abençoado que o Criador enviara pra iluminar minha vida. Óbvio que viver ficou muito melhor com o sorriso dele alegrando as minhas manhãs. Mas estou quase certa de que a minha contribuição para a propagação da espécie vai ficar por aqui.
Esses dias nublados que tenho vivido ultimamente trouxeram de volta os pensamentos apocalipticos e deterministas que me faziam desistir de procriar.
Hoje vi uma propaganda linda na televisão, com um monte de crianças brincando, felizes num campo verde. Pensei em meu filho, óbvio. E senti pena da geração dele, privados de tantas coisas, expostos a perigos inimagináveis às crianças que como eu, viveram os anos 80. Por mais que a gente queira e tente protegê-los, haverá sempre algo que fugirá ao nosso controle e poderá atingí-los.
Agora penso em minha mãe, e no sofrimento dela, ao saber da luta que seu filho está por travar.
Ser mãe é mesmo padecer no paraíso.