O destino trouxe de volta o Homem Sem Tempo para sua vida numa noite quente de verão. O fim do ano se aproximava e a Mulher Só havia mergulhado num antigo projeto de estudos, objetivando uma bolsa para cursar um Mestrado no exterior. Passara os últimos três meses providenciando a papelada e os trâmites necessários para sua viagem e estadia na Espanha, além de ter voltado a estudar o idioma. Em pouco tempo embarcaria para iniciar o seu curso na Universidade de Barcelona. Isso acabara lhe absorvendo muito, e de certa forma ajudado a abrandar a angústia que sua última descoberta lhe trouxera.
O Homem Sem Tempo havia lhe telefonado algumas vezes, mas ela achara por bem não atender, e na única vez que o fez, tentou manter-se fria, disse-lhe que estava ocupada e que retornaria a ligação outra hora. Acreditava que ele tivesse desistido, diante de tantas recusas. Mas estava enganada. O telefone tocou. Pensou em não atender, mas àquela altura, o que deveria temer? Já estava certa de que ele não poderia ser seu e por isso resolvera tocar sua vida bem longe dele. Por que temer um telefonema? Seria assim tão fraca em suas decisões?
- Alô!
- Boa noite, tento falar contigo, sempre sem sucesso... que bom que atendeu.
Definitivamente, aquela voz mexia demais consigo. Podia imaginar o rosto dele, o sorriso preso, os olhinhos apertados, com algumas rugas ao redor. Odiou-se por ter atendido, por sentir que ainda nutria um forte sentimento por ele.
Tinha que desligar.
- Estive fora por quase dois meses – mentiu, tentando justificar-se. – Estou envolvida num novo projeto.
- Que bom! Estou ligando pra lhe fazer um convite. - Seu coração disparou, não conseguia controlar-se, estava ansiosa, queria vê-lo, queria muito e não conseguia pensar em mais nada além daquilo. Estava muda. – Vamos almoçar amanhã, preciso vê-la antes que esse ano termine, há tempos tenho tentado um reencontro contigo, sem sucesso. Posso apanhá-la amanhã, às 11:00hs?
Ele disparou a falar, deixando-a sem saída. Ficou admirada com aquela determinação.
- Sim, claro – disse sem pensar, e antes que pudesse voltar atrás, ele continuou
- Ótimo! Vou apanhá-la às 11hs. Você ainda mora no mesmo endereço?
- Não. Eu prefiro ir com o meu carro, você me diz onde fica o restaurante – foi o que conseguiu falar, tentando pensar rápido, enquanto procurava papel e caneta.
Marcaram ao meio dia, num restaurante especializado em frutos do mar, que ficava de frente pro mar. Seu coração batia fora do compasso. Poderia algo dar errado?
To be Continued