Capítulo XXXI
Estava com dificuldades para traduzir alguns trechos de um livro importantíssimo para sua pesquisa e por isso cogitou solicitar a ajuda do seu amigo DJ Catalão. Telefonou-lhe, meio sem jeito, pois há algum tempo não se falavam. Ele atendeu com a alegria e disposição de sempre, prometendo ajudá-la, desde que aceitasse tomar um chopp com ele. Tudo na vida tem seu preço, pensou. Em compensação, seria bom sair pra arejar as ideias depois de dias debruçada sobre aquele trabalho. Marcaram num sábado à tarde, num café próximo à casa dela.
Após revisarem a parte do livro que a interessava e somente depois de todas as anotações terem sido feitas, a Mulher Só aceitou tomar o seu primeiro chopp. O DJ Catalão já havia tomado uns seis, e ela rogava a Deus para que a tradução feita por ele estivesse fiel. Depois do primeiro gole, relaxou. Conversaram animadamente e mesmo tentando se esquivar das investidas daquele lindo rapaz o qual ela queria apenas a amizade e algumas aulas de um idioma difícil, conseguiu divertir-se e sentir-se menos tensa. Passara a semana contando as horas para finalizar aquela parte de sua pesquisa, pois acreditava que dali a alguns dias estaria explodindo de felicidade, nos braços de seu amado.
Pouco antes das sete horas seu celular tocou. Era ele. Pediu licença ao amigo e afastou-se da mesa onde estavam, permanecendo de pé, próximo à saída.
O DJ Catalão a observava enquanto falava. Não entendia quase nada de português, e ainda menos de leitura labial, mas viu surgir no semblante dela uma expressão de desalento. O sorriso que brotara no rosto ao atender o aparelho desapareceu por completo quando ouviu o Homem Sem Tempo dizer-lhe que não poderia viajar nos próximos dias. Antes que ele prolongasse a conversa e lhe prometesse uma nova tentativa de reencontro, ela cortou-o. Estava cansada de recusas.
Desligou o celular e voltou à mesa, tentando não aparentar a tristeza e decepção que a dominaram. Sentou-se e pegou a taça de chopp que seu amigo lhe oferecera.
- No et preocupis, estimada. La tristesa no li convé!
Apesar de sentir-se destruída por dentro, sorriu-lhe e brindaram. Seu amigo não merecia seu mau humor e o Homem Sem Tempo não merecia que ela deixasse de tentar ser feliz. A noite caiu e após algumas taças e muitos brindes, passou a ver de outra forma o azul daqueles olhos brilhantes que estavam à sua frente.
To Be Continued