Acabara de fazer suas malas. Já havia se despedido dos colegas de trabalho, do pai e da irmã. No dia seguinte, às 22hs, embarcaria pra Europa, onde passaria os próximos seis meses. Em julho teria alguns dias de férias e voltaria para rever sua família.
Seu pai pediu-lhe que não ficasse fora do país durante os dois anos que seu curso duraria, e que viesse vê-lo antes que fosse a vez dele partir para sempre. Ela já conhecia sua forma apelativa de tentar convencê-la. Essa era a única maneira que encontrava para sensibilizá-la, pois sabia que ela era perfeitamente capaz de isolar-se e ficar sem dar notícias por meses a fio, como já fizera antes. Mas agora era diferente, seu velho pai estava com a saúde frágil, e sua presença certamente traria algum conforto para ele.
Pensou no Homem Sem Tempo, sentiu um aperto no coração. Não queria embarcar sem antes vê-lo, dizer-lhe o quanto o amava e porquê estava partindo. Olhou o relógio, que marcava 13:15hs. Onde ele estaria agora? Pegou o telefone e discou. Não demorou a atender.
- Que surpresa boa... – parecia sorrir, sua alegria a contagiava, fazendo-a sentir ainda mais vontade de vê-lo
- Você está ocupado agora?
- Não, estou de folga hoje à tarde. Por quê?
- Porque eu também estou livre agora e gostaria de encontrá-lo, se você puder.
Marcaram numa sorveteria, próxima à sua casa. O local soava um tanto pueril, mas preferia encontrá-lo num lugar neutro, além do mais era verão, e nada mais apropriado que um sorvete refrescante.
Ele garantiu estar lá em 30 minutos e ela ainda se questionava se realmente deveria ter feito aquilo. Sim, deveria. Não poderia viajar sem falar com ele, sem ouvir de sua própria boca que havia se casado. Ainda tinha esperanças de que fosse apenas um equívoco.
Na hora marcada, lá estava ela, tensa, em uma mesa nos fundos, quase escondida atrás de um sorvete enorme. Ele adentrou o recinto e ficou parado à porta, procurando-a com os olhos. Ela ficou a admirá-lo. Não o via há mais de dois anos. Usava óculos de aro fino e estava levemente mais gordo. Devia mesmo estar casado, pensou, os homens costumam engordar depois do casamento. Riu, e continuou a observá-lo. Ainda mantinha seu magnetismo, era alto, tinha cabelos escuros, pele clara, não muito bonito, porém, um homem fascinante.
Ele a viu, e foi em sua direção, sorrindo timidamente. Suas mãos suavam, seu coração disparou. Cumprimentaram-se com um abraço rápido e sentaram de frente um pro outro. Ela ostentava um sorriso largo, até seu olhar atento pousar sobre a aliança de ouro em sua mão esquerda. O sorriso foi se desmanchando lentamente até desaparecer por completo do rosto. Ficou gelada, sentiu vontade de sumir, mas procurou agir com naturalidade e manteve-se impassível diante dele.
To be Continued