Capítulo XXXIII
Ela se fora ao amanhecer, levando consigo a sensação de que havia sido a última vez. Preferiu deixá-lo dormindo, a ter que vê-lo partir outra vez. Mas se fosse mesmo a última vez, não haveria porque arrepender-se, teria trocado a eternidade por aquela noite.
A Mulher Só chegou ao bar do Hotel Arts antes das oito. No balcão, pediu um gim tônica. Tomou três e depois dirigiu-se, meio cambaleante, ao saguão do hotel. O Homem Sem Tempo havia acabado de descer e trazia uma rosa vermelha nas mãos. Seus olhos não acreditaram quando pousaram sobre aquela mulher cuja boca e sapatos tinham a mesma cor da rosa que ele segurava.

Ela estava estonteante. Era a visão do paraíso e ele desejou morrer ali, emaranhado naqueles cabelos revoltos, enlaçado por seus braços, ou pelas pernas longilíneas à mostra, sobre saltos que lhe pareciam impossíveis de se equilibrar. Nunca a vira ou a imaginara daquele jeito. Seu coração acelerava à medida em que ela avançava em sua direção. Parecia outra mulher. Ou era outra pessoa, ou estava possuída. Aproximou-se dele e nada disse, apenas respirava ofegante, fazendo o peito, preso num decote assustador, subir e descer, deixando-o ainda mais enlouquecido. E ele não conseguia tirar os olhos daquela boca incandescente. Beijaram-se de forma alucinada. E subiram sem trocar uma palavra.
Mais tarde desceram para jantar, conversaram, beberam vinho e riram muito de seus desencontros. Ela estava feliz. Era a noite do Dia dos Namorados e ele estava ali. O que mais poderia querer? A vida toda? A vida toda seria muito tempo. Ela sabia que não merecia tanto.
Subiram novamente, se amaram mais uma vez e a última coisa de que se lembrava era do som da sua própria risada e dos carinhos dele em seu rosto antes de adormecer.
To be Continued