O tom de voz do outro lado da linha denunciava que ele estava feliz, mais leve, descontraído. Disse que encontrara o número de seu telefone numa antiga agenda, e resolvera ligar, pra conferir se estava correto.
Conversavam sobre coisas banais, o dia a dia, a política e até o ideal que os unira no passado. Mas nunca falavam de seus sentimentos, nunca sobre as particularidades de suas vidas.
Ela queria dar pistas, dizer-lhe que estava só, mas não sabia como fazê-lo.
- Eu me separei – falou, meio hesitante, quando já não havia mais nenhum assunto a tratar.
- Eu soube – sua resposta foi imediata e firme.
Será que foi por isso que ele a procurou? Haveria algum outro interesse por trás desse telefonema às 23hs de sábado? Esse homem a confundia e a Mulher Só pensava a mil por hora, muda, do outro lado da linha.
- Mas você está bem, não é mesmo? – era a voz dele, quebrando o silêncio e trazendo-a de volta dos seus devaneios.
- Sim, claro, foi melhor assim.
- Eu gostaria de revê-la – Aquelas palavras pareceram mágicas, instantaneamente um sorriso iluminou seu rosto – mas ando um pouco assoberbado por esses dias. Vou telefonar-lhe no final do mês, quem sabe não marcamos alguma coisa...?
- Ok – foi a única coisa que conseguiu dizer, tamanha era a frustração.
Foi dormir pensando nele, com um sorriso no rosto e um aperto no coração. Sua voz lhe iluminara o semblante, mas suas palavras acanharam-lhe a alma. Por que era tão difícil aproximar-se desse homem, mesmo agora que já não tinha mais nenhum compromisso que a impedisse de declarar-se?
Criara um mito em torno dele. Um mito que não conseguia desconstruir.
E isso fazia com que se apaixonasse cada vez mais.
To be continued...