Circula na internet um e-mail que traz a notícia de que o Ministério da Educação pretende ampliar o número de dias letivos, de 200 para 220. A medida visaria, segundo o ministro Fernando Haddad, aumentar o tempo de permanência dos alunos em sala de aula, pois segundo pesquisas realizadas pelo MEC, isso melhoraria os indicadores de qualidade da educação brasileira.
Professores de todo o país passaram então a manifestar-se contrariamente à essa medida (que ainda não é projeto de lei) por meio de redes sociais. Eu, enquanto professora da educação básica, atuando na rede pública há 7 anos, não acredito que vinte dias a mais em sala de aula resolverá o problema da educação no Brasil. Até porque, o que chamamos de "problema" é um conjunto de coisas, uma bola de neve que se arrasta há anos, de governo em governo. É preciso melhorar a infra estrutura das escolas, provê-las com equipamentos, recursos e bibliotecas, investir na merenda escolar, na segurança e manter os professores sempre atualizados, motivados e bem remunerados.
O Sr. Ministro e seus assessores estão minimizando o problema achando que vinte dias de aulas a mais vai dar pra modificar índices e conseguir milagres como melhorar o IDEB e os resultados do ENEM. Outra meta do MEC para 2020 é implantar a educação em turno integral em metade das escolas públicas brasileiras. Mais uma tentativa no sentido de equiparar a educação pública com a oferecida pela rede privada, haja vista que os índices dessa última são sempre melhores.
Acredito na educação em tempo integral, pois um dos grandes problemas dos alunos da rede pública hoje é a falta de compromisso com sua formação. Os próprios alunos não têm a mínima noção da importância do estudo na vida deles. E os pais, idem. A impressão que eu tenho é que todos estão imersos num universo onde a diversão e o esforço mínimo são os únicos objetivos.
Há quem consiga a proeza de se sair bem na escola, mas o nível de aprendizagem diminui à medida em que os anos escolares avançam. Novos interesses vão surgindo, e a escola, quase sempre desprovida de recursos e atrativos, vai se tornando cada vez mais chata, o último local onde eles gostariam de estar. E nós, as terríveis professoras, que vivemos para persegui-los com cobranças de atividades, submetendo-os a avaliações e ameaçando-os com notas vermelhas, nos tornamos os seres mais desprezíveis sobre a face da terra.
Ser professor é difícil. Mas eu gosto de coisas difíceis! Não vou desistir de fazer meus alunos compreenderem que só pela educação eles poderão mudar a realidade em que vivem. Bom, primeiro eu preciso fazê-los enxergar que a vida deles não é a ideal... (ô tarefa árdua!) Enquanto isso espero pelas medidas governamentais que vão mudar a vida deles e a minha também: Menos férias, mais trabalho, mesmo salário... dá pra ser feliz assim?
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