Sempre fui uma pessoa medrosa. Embora muita gente me ache corajosa, em verdade, a maioria das vezes que tive atos de bravura, foi por pura falta de opção. Também não acho que o contrário de corajoso seja medroso. Ser medroso é ser cauteloso. Pra mim o contrário de corajoso é covarde. E isso eu nunca fui.
Enfrentei muitos medos nessa vida, mas ainda tenho uma porção deles. Sobre o maior deles eu nem me atrevo a falar, que é pra não atrair. Mas no fundo eu sei que alguns desses medos me rondam, estão sempre espreitando, chegando perto, me testando. E eu aqui, respondendo a tudo com aquela falsa bravura, de quem não tem outra escolha, senão fechar os olhos e se atirar no abismo.
Estamos aqui vivendo dias difíceis. Coisas pelas quais toda família passa, ou vai passar um dia. Quando um idoso adoece, já se começa a pensar no pior. E quando já se passou por algo pior, parece que é ainda pior!
Ver meu irmão morrer tão jovem, há dois anos, parece que me secou um pouco por dentro, ou me deixou mais medrosa. O sofrimento que minha família passou é algo que não queria ver nunca mais. Mas sei que isso é impossível. Aos poucos, morreremos todos.
E pra ser sincera, nem acho que a morte seja o pior de tudo. Pelo menos não pra quem morre. Mas pra quem fica é terrível! E o meu medo no momento é esse: a reação de quem fica, porque muitos acabam morrendo um pouco também.