2 de dez. de 2011

Cara de Durão, Coração de Melão

O primeiro emprego de Crístian aqui em Salvador foi numa agência de publicidade, que além de remunerar mal, ainda atrasava o salário. Embora trabalhasse na criação, acabou ficando amigo do boy da empresa. Costumavam almoçar juntos. Todos os dias ele chegava em casa com uma história nova sobre esse rapaz, que encarnava a própria figura do office-boy daquela musiquinha enjoada dos anos 80, porque se dava mal em tudo. 
Não cheguei a conhecer o rapaz, e ainda por cima, esqueci seu nome, mas lembro de muitas histórias tragicômicas dele, narradas com  a expressividade e o riso marcante de meu irmão. O cara morava sozinho num cubículo, mal tinha dinheiro pra pagar o aluguel e vez por outra Crístian levava almoço para ele.
Um dia chegou me contando que o amigo havia engravidado a namorada. Eu fiquei preocupadíssima. Como alguém que mal se sustentava poderia colocar um filho no mundo? Semanas depois outra bomba: Gravidez gemelar!
Eu quase caí pra trás, com pena daquelas pobres crianças e Crístian soltava seu riso largo, como se não se importasse com o infortúnio do cara. Eu lhe pedi que não risse, porque a situação era séria, e ele me veio com essa pérola:
- Ele disse que vai registrar com os nomes "Deivson e Pâmela"! 
Aí até eu ri (poderia haver destino pior do que esses nomes???).
Tempos depois chega em casa a fatura do meu cartão de crédito, o qual eu havia presenteado Crístian com um cartão adicional. Na listagem, a conta de uma loja de artigos para bebês. Questionei-o a respeito e ele me disse que havia comprado para os filhinhos do amigo, que ainda não tinham enxoval. 
- Mas não se preocupe, assim que receber ele vai pagar!
Nunca vi a cor daquele dinheiro, não conheci os gêmeos, nem seus pais. Mas ficou a certeza de que meu irmão, apesar de tentar se fazer de durão, tinha um coração enorme.

Saudades de nossas histórias, nossa conversas, nossa cumplicidade... saudade boa, Amor, sem tristeza, porque como diz aquela música do Biquíni Cavadão: "o amor vai sempre ser amor, em qualquer lugar".

6 comentários:

  1. As histórias entre manos são singulares, recheadas de doidices e emoções. Quando você fala do seu irmão, me lembro dos meus, e fico com uma saudade absurda e tento me colocar na sua saudade. É impossível imaginar essa dor da perda. Tomara que mais histórias te façam lembrar dele assim: vivinho e cheio de coração bão... o mundo é bão...como diria Nando Reis... beijo, Patiinha

    ResponderExcluir
  2. Você terá créditos em dobro meu bem, principalmente com Pâmela e Deivison. Quanto ao "durão", com certeza era e é um grande coração. Beijos

    ResponderExcluir
  3. Não sei porque acabei lembrando do filme "A Bela e a Fera" onde a dureza se confunde com o amor... Nós seres humanos somos munidos de muitos escudos o que dificulta as vezes para o outro descobrir quem realmente somos. HUMANOS... Vc. minha amiga me surpreende a cada escrita, pois vc. torna tudo tão real aos olhos de quem lê.

    ResponderExcluir
  4. Pois é, eu conheci a figura, apesar de não lembrar o nome. Ele era loiro, bonito e bastante tímido, talvez uma certa tristeza no olhar.
    Dão era assim, o que posso contar dele é q uma vez estávamos aqui em Salvador num ponto de ônibus na paralela, mais precisamente na entrada do Trobogy. Domingo de sol,íamos p ensaio da banda dele... todos dois arrumados. Ele bonitão, calça jeans, regata branca, óculos escuro, cheiroso, banho tomado, violão a tiracolo... eis que surge um carro sendo empurrado numa subida... ñ deu outra, me entregou o violão e saiu correndo p ajudar os desconhecidos até o posto de gasolina alí do lado. Fiquei tão orgulhosa dele neste dia e diante das outras pessoas q se encontravam no ponto. CORAÇÃO SEM TAMANHO... esta é apenas uma de muuuuuuitas histórias nossas.

    ResponderExcluir
  5. Olá Paty,
    A foto do Cristian não revela uma cara de durão, mas um jeito bem doce. Vê-se pelos olhos.
    Adorei a maneira como você falou de sua saudade com relação a ele. Uma saudade serena. Lindo isso!
    Beijokas.

    ResponderExcluir
  6. Essa é a parte boa da ação do tempo, vai levando embora a tristeza, deixando só a saudades, as lembranças.

    O César é um lindinho, que delícia essa carinha. Votei.

    Beijos Paty

    ResponderExcluir

Se impressionou? Então me conte!